sexta-feira, abril 30, 2004

Portugal é um país dos diabos

Aceitam-se desmentidos para este blog.

Um abraço e até já

quarta-feira, abril 28, 2004

Portugal, onde está Abril?

Já antes me apoquentavam os males alheios. Com maior dor os das crianças, dos velhos e dos animais. Os mais fracos.

Agora que sou pai, vejo que não estava a teatralizar. Não: tudo é muito pior. A minha filha adoeceu - e são otites e larangites e... Vi como tinha sorte por fazer uma coisa que nunca imaginei que fosse de privilégio: comprar medicamentos, chamar um médico a casa.

Esta coisa do comum dia-a-dia atirou-me para análises mais preocupantes: quem faz política não é pai. Não o é, seguramente, para os seus concidadãos. Será, quando muito, padrasto a prazo (de um qualquer mandato).

Mas não é isto coisa de surpreender, senhores. A pior frase que ouvi sair da boca de alguém foi proferida após manjar bem regado, para espanto meu, por um jornalista de responsabilidade. Inerentes à profissão e, em acréscimo, responsabilidades dentro da classe e para com os seus pares. Em particular, para os novéis candidatos a quem ele se dirigia e que também era eu.

Disse esta coisa tão comum e tão tremenda de crueldade: "Pimenta no cú dos outros é açucar para mim." Não é assim que eu quero passar pelo mundo.

E é nos pequenos sinais que devemos ancorar as nossas angústias. E eu, não posso deixar de me comprometer com o futuro. Tenho o DEVER. Carrego o dom alheio. Há não muito tempo, sete espíritos absolutamente invulgares - mas deste tempo -, fizeram tábua rasa da sapiência daquele ilustre jornalista que um dia ouviram numa sala que só era exígua em espaço e adiaram o próprio futuro por aquele que apenas conheciam havia um par de anos.

Todos aceitaram adiar o futuro por alguém que mal merecia estar entre eles. E ainda não estão bem. E eu deveria ser capaz de fazer muito mais.

Em tempos de homenagens, lembro-me das palavras de uma interveniente, há semanas, no Fórum da TSF. Dizia a senhora que nos 30 anos do 25 de Abril os grandes heróis eram aqueles portugueses silenciosos que suportavam uma vida de angústia e de faltas. Eu também assim o achei. Mas hoje, quero deixar a minha homenagem aos que o adiaram mas que terão um futuro como os dias de Sol que agora correm.

Obrigado, um abraço e até logo

"L'esprit d'escalier"

Lembrei-me a propósito do "pois é". Não sei quem foi o pensador francês a quem ocorreu a expressão, mas ela resume-se ao seguinte: um dia, durante uma conversa com determinado interlocutor, o dito ficou sem resposta.

Quando abandonava a casa daquele, já nas escadas, ocorreu-lhe uma expressão pura de génio, a matar. Mas... já ía na escada e, a descer com ele, o sentido de oportunidade, o que agora chamamos de timing (sincronismos).

Acontece aos melhores.

Um abraço e até já

sexta-feira, abril 23, 2004

Palavras que se vertem mas que não se perdem...

...Obrigado Carlos, muito obrigado meu amigo sedentário. Eu não mereço tanto.

E já agora, estava eu, quando te li, empolgado em escrever sobre Mahler. Como a terceira me arrepiava mais do que a quinta. Por culpa de Visconti, o Luchino, por sedução amarga de Dirk Bogarde, insiste a turba erudita em puxar para os alvores da glória o adágio da quinta.

Digo eu na minha ignorância de melómano que apenas se rege pelos ouvidos e pelo coração: que não - a obra-prima acabada é o langsam da terceira, o sexto movimento, se não me engano. É mais longa, é mais gráfica, é mais forte e encerra uma narrativa de revolta primordial. O da quinta é um movimento de um Mahler amaciado debaixo das saias de Alma - aquela que o enviava para o pavilhão ao fundo do jardim para que depois trocasse abraços e carícias depravadas por pautas de génio puro. Como se pudesse reduzir Mahler a alguém que apenas pode ter sexo caucionado por moeda-papel. É assim que a vejo, embora a ache fascinante.

Já o sexto da terceira é um quadro vivo. Os instrumentos tocam por entre árvores altas e verde escuro, vegetação abundante mas macia. Mahler dirige-se às portas de Deus, com as suas dúvidas de homem e a irascibilidade e nervo de um cavalo encarcerado. Revolta-se com Deus, vocifera as suas razões. Bate-lhe às portas altas; a madeira rude e ferrada.

Os anjos apelam-lhe. Não os ouve. Mais acontece. No final, é Deus ele próprio quem lhe abre os portões da vida. Mahler acalma-se. Sente que o caminho é válido e sente-se justiçado. Desbravar o caminho era o sentido.

Bem, mas isto é só o que eu acho e no fundo toda a música tem "isso" de redentor. Obrigado também por me lembrares desse amigo Gustav que andava um pouco esquecido nos arquivos recônditos da ÂNIMA.

Um grande abraço e até logo

Why?

São milhares e milhares de palavras que todos os dias me caem dos dedos. E eu pergunto-me: para quê? Por uma féria ao fim do mês? Ora foda-se.

Um abraço, até logo

quarta-feira, abril 21, 2004

Dia histórico no futebol

Ontem foi um dia histórico para o futebol. Era uma e dez da tarde quando abri a caixa do correio. O envelope estava lá. Abri-o. Tinha chegado o cartão de sócia do Benfica da minha filha, o bebé mais lindo da família da Luz.

Um abraço, até logo

Quantas?

Isto pode parecer ridículo, mas a única reacção que a morte de Abdelaziz al-Rantissi me provocou foi esta estupidez cerebral: soube da sua morte antes do jogo ou no intervalo do jogo do Benfica. Um médico pediatra que se mantém frio quando (crianças e bebés) israelitas são atingidos pelos seus homens-bomba não me merece mais do que isto. Depois, talvez o tenha imaginado, vi e ouvi uma mulher falar do sahid e de como o marido ou filho ou não sei quem estava destinado a ser um mártir e que era uma hipótese com a qual vivera e vivia bem. Ok. De repente dei comigo a pensar a tal coisa estúpida. Então quando um mártir morre tem sessenta ou setenta virgens à sua espera no paraíso - o que é que acham disto as suas mulheres? Como é que podem apoiar um esposo que se prepara para se desintegrar nos braços de dezenas de virgens?

Fico descansado por não me terem ocorrido dúvidas quanto à forma como Allá arranja assim mulheres de um dia para o outro. E virgens.

Um abraço, até já

Quem sabe faz, quem não sabe ensina

Andava há semanas para escrever esta máxima que um dia me ofereceram, era eu ainda professor. Agora, lembrei-me dela a propósito de José Maria Aznar. Parece que o antigo chefe do Palácio da Moncloa vai ensinar nos Estados Unidos. A sua reacção aos atentados de 11 de Março ainda vai ser um motivo de leite para muitas teses. Adivinham-se reprovações por atentado à autoridade.

Um abraço, até já

terça-feira, abril 13, 2004

Conselho sério

Abriu a caça às focas. Dentro de pouco, serão centenas de milhar mortas "para equilibrar a população da espécie no Canadá". Como se sabe, o excesso populacional de seres humanos - entre outros factores - também leva à impossibilidade de alimentar e proporcionar vidas decentes a todas as pessoas que habitam o planeta. Já sabem, quando virem governantes canadianos, pelo menos uma cuspidela. As focas... eu já as vi a chorar.

Um abraço, até logo

At last

Finally got to see lost in translation. If i knew how, i'd be writing in good japonese. We have a born star, Scarlett Johannsen, a reborn actor, Bill Murray, and a vallue getting solid in her genes, Sofia Coppola.

And now, in bad portuguese. Venham daí os portugueses falar em baixos orçamentos e falta de dinheiro para o cinema de pausas estudadas. Não sei quanto se gastou ali, mas não vi razões para fortunas. Apenas génio, simples e puro génio. Assim é a vida. Sem explosões ou efeitos, sem pausas empertigadas. Apenas o silêncio a marcar o gelo da vida. Gelo depois - que sempre o foi - incandescente.

PS - Vi o "Quadratura do Círculo" sobre "A Paixão de Cristo". Pelo que ouvi, nunca me passaria pela cabeça ir ver o filme. Desiludiu-me o pouco que saiu das cabeças de Pacheco Pereira e Lobo Xavier. Quanto a José Magalhães, nada de novo. O cérebro dele e o meu, um deles não funciona bem.

Um abraço, até logo

sexta-feira, abril 09, 2004

Esperança - nome para futuro

Isto foi o que eu vi. A meio desta semana, talvez na quarta. Paro nos sinais da Avenida Brasil quando se cruza com a Estados Unidos da América (é possivel que os nomes estejam errados... não sou grande espingarda nestas coisas). Uma mulher com bebé do tamanho da minha bebé começa a ronda pelos carros. Prosta-se durante segundos diante da janela do passageiro da frente. O carro avança centímetros estratégicos para a desencorajar. Ela volta-se para a fila. Está um sol abrasador. O bebé tem na cabeça um pano negro enrolado. Veste só fralda e um body branco. A mulher recomeça a marcha. A janela de trás do carro abre-se. A mulher pára. De dentro do carro sai uma mão pequenina. Estende uma daquelas gomas compridas encarnadas e retorcidas que parecem salgadas mas são na realidade açucaradas. A mão pequenina estende a goma e o bebé ao colo da mulher estende-se e apanha o doce. Sorri. A mulher também sorri e diz qualquer coisa para a mão pequenina.

A minha filha não tem uma vida de rainha, apesar de ser para mim uma princesa. Mas, na realidade, neste momento em que escrevo esta história de Páscoa, a única diferença entre aquele bebé e a minha filha é que a... é minha filha e aquele bebé é filho daquela mulher. A minha filha estava naquele momento na escolinha - como dizemos em casa - com outros meninos como ela. O bebé estava nos semáforos da Av. Brasil com a Estados Unidos da América. Nunca desejaria isso para a... , mas quero que ela seja um dia como aquela mão que saiu de um carro com uma goma na mão.

Um abraço, até logo

terça-feira, abril 06, 2004

As focas e outros animais

Vi que no Canadá voltou a empregar-se esse método do bastão de baseball na matança de focas. O homem é animalesco.

Soube que o Governo aprovou o abate com a justificação do controle da espécie. O Governo do Canadá é governado por atrasados mentais. Ou então eu estou enganado e os políticos que aprovaram estas medidas passam os serões do fim-de-semana, orgulhosos, com os seus filhos pequenos a ver videos do resultado dos seus dias de trabalho durante a semana, nomeadamente focas bebés atrás das mães esquartejadas. Focas bebés mortas à paulada para não estragar a sua pele com buracos de bala.

Não, com certeza eles estão certos e eu estou errado. Peço desculpa por este azedume. Se calhar lá estou eu a pensar que aquelas peles vão direitinhas para as passarelles de Paris e Milão para enfeitar umas bimbas escanzeladas e uma multidão rica de atrasados mentais.

Por estas e por outras os povos indígenas do continente americano que "pediam autorização" aos animais para os matarem e comerem foram dizimados e "enclavados" em reservas. Um animal mais forte assomou do Atlântico.

Parece que o Governo do Canadá autorizou a caça de um milhão de focas em três anos. Em 2003, foram abatidos 298.000 animais. Este ano, o número vai chegar aos 350.000. Eu tinha a ideia de que os canadianos não funcionavam bem da cabeça. Uma certeza tenho: os políticos que tomaram esta decisão e os que permitem a sua aplicação não funcionam. E isto digo-o sem ironia ou brincadeira. Eles não são atrasados mentais, são é burros.

Quando ouço falar do Homem a tentar restabelecer equilíbrios na natureza, só posso rir-me às gargalhadas. Mas quando se trata de medidas deste tipo, fico a pensar nas palavras de José Saramago: vou morrer e deixar este mundo de merda sem esperança nenhuma.

Continuo a pensar onde estão os génios das grandes universidades e grandes institutos do mundo civilizado.

Um abraço e até logo

sexta-feira, abril 02, 2004

Isto é de pôr um pai orgulhoso

Caro...,
Obrigado pela inscrição em www.slbenfica.pt

Serve o presente para confirmar a inscrição da... e o consequente processamento do cartão de sócio, o qual será enviado para a morada indicada no formulário, dentro de dias.

Agradecemos a sua preferência.

Atenciosamente,
Hugo Soares
Site Oficial do Sport Lisboa e Benfica

Abraços e até já

quinta-feira, abril 01, 2004

Falando em coisas mais menos sérias

E só para chatear os meus amigos leoninos e a família da minha filha do lado da mãe, com a mãe incluída, a minha pequenota - apesar de andar com uma otite (é assim que se escreve? porra, é que assim escrito aparenta ser mais grave do que me pareceu hoje de manhã) - bem, a minha pequenota é sócia do Benfica desde as 17:51 desta tarde. "Mai nada." SLB, SLB, Glorioso SLB, Glorioso SLB.

Um abraço, até logo

O blog, a resposta aos leitores e aos amigos dele

Esta é na íntegra a resposta que enviei ao mail recebido:

"Caríssimo...,

por mais estranho que possa parecer-te, concordo com quase tudo o que dizes. A única coisa que eu acrescentaria é que a situação também é alimentada pela falta de bom senso de determinadas alas políticas israelitas - o Likud e os seus falcões - e os judeus ortodoxos que o são antes de serem israelitas.

Repara que eu nada escrevi quando foi morto o sheiq Ahmed Yassin. E não foi por falta de tempo. Simplesmente não me merecia qualquer réstia de respeito a sua forma forma de pensar. Por exemplo, apenas me suscitou uma gargalhada sincera quando a ETA se veio mostrar vítima das milícias armadas de Felipe González. É claro que do ponto de vista político, num sistema de democracia, é inaceitável o recurso a manobras paramilitares como os GAL - mas acresce que eu não sou político. (Mas não deixou de ter piada o lobo com pele de cordeiro vir dizer que estava a ser atacado por cordeiros com pele de lobo - digno de pena.)

Outra coisa. A revolta que senti quando vi aquela imagem, porque eu vi a imagem do menino ao colo do pai, te-la-ía sentido se pai e filho fossem judeus, porque a mim já não me interessa a dimensão política, porque essa já falhou, e a solução será outra que fomente dentro da sociedade civil, com o problema extremo de se tratar de Estados profunda e erradamente enraizados na religião, essa ameaça crescente a todas as PAZes. Outras vezes me revoltei quando ouvi dizer de bebés mortos ou feridos em autocarros de Israel (quem diz bebés diz pessoas, que o direito à vida não se mede pela idade). E nessa altura, amaldiçoei o bombista palestiniano que pôs morta uma criança que horas antes acordara para mais um dia.

Desde pequeno, já to disse em alguma conversa, ouço o meu pai defender a mesma ideia sobre as ex-colónias. Angola e Moçambique, diz, nunca terão a paz porque os seus dirigentes criaram-se na guerra e por causa da guerra. E porque não sabem fazer mais nada. Ora, temo que também assim seja no Médio Oriente. E foi aqui que eu discordei de ti. Não são apenas os dirigentes palestinianos, esta febre perpassa também pelo espírito bélico de um povo há milhares de anos em demanda.

Um abraço..."

Até já

O blog, os leitores e os amigos dele

A propósito do meu desabafo sobre a morte, que passaria incólume pela agenda do mundo, um grande amigo envio-me este mail que passo a reproduzir:

"Como sabes, e porque as nossas discussões são quase fracticidas, sou céptico por natureza, muito descrente no Homem e na sua História. Este "triste" facto, que me acompanha desde que penso a Política, leva-me a ser conservador nas opiniões e a considerar que a evolução do Homem, da Sociedade e da Civilização é uma coisa lenta, feita de pequenos passos, pequenas reformas. Não tenho ilusões. O Homem é assim, o Mundo é assim e a caminhada da História dificilmente se fará de outra maneira. Isto impede-me de sonhar com um mundo melhor, principalmente quando falo de política e das relações entre os Estados. Tudo isto vem a propósito da questão do Médio Oriente e do conflito Israel/Palestina. É obvio que a ocupação israelita é ilegal e injusta. Que o povo palestiniano tem sofrido décadas de humilhações. E, acima de tudo, que a morte de crianças inocentes é uma tragédia inqualificável. Mas agora pergunto eu, e se puderes reflecte sobre isto. Quem é que recusou vários acordos de paz? Quem é que utiliza o terrorismo como arma, matando indiscriminadamente homens, mulheres e crianças? Quem manipula crianças e jovens atirando-os para a frente de tanques e canhões a arremessar pedras, tornando-os alvos fáceis das forças de segurança israelitas? Ou achas que eles "vão para ali" porque não têm mais nada para fazer? Quem utiliza homens e mulheres bomba? Que organizações políticas fomentam a cultura do martírio, do amor à morte, do suicídio e sei lá mais o quê, em troca do paraíso e das 72 virgens (será que as bombistas tb têm 72 homens virgens?)? É com esta gente, esta cultura, esta forma de encarar a vida que estamos a falar. Tu respondes que é o desepero, a falta de perspectivas de vida, a injustiça que leva a toda esta situação. Ao fim ao cabo está a vencer a cultura do olho por olho, dente por dente. Por mim, digo-te que é falta de bom senso dos dirigentes palestinianos que está a levar o seu povo à desgraça. É preciso realismo para se conseguir atingir os objectivo de libertação da Nação, que deverá, com toda a justiça, levar à criação de um Estado Palestiniano. Olha para o caso de Timor e faz a comparação. E já não falo do facto de achar que o Islão é uma civilização medieval e falhada (frase de Vasco Pulido Valente) mas essa é outra história... fixa esta ideia. Em minha opinião, o sucesso dos EUA, e do Ocidente em geral, advém do sistema Democrático e do Rule of Law."