A Piscina era a Vida
Em inglês seria: the pool was life, mas o velho Ismael não falava inglês,
das muitas competências que reuniu desde que saiu do útero materno não constava
a língua que Beckett renegaria nas últimas peças. Por isso era em português que
A piscina era vida. Com os seus vermelhos azuis e brancos. As bóias
separadoras das pistas a boiarem nas águas agitadas, travessas das crianças que
chapinhavam. De vez em quando, à sexta-feira, ia sentar-me para os lados das
Olaias num banco de plástico no meio da neblina quente que chegava da piscina
de um clube selecto. Sentava-me ao lado dos pais e dos avós que esperavam pelas
crianças. Como se também eu esperasse alguém. Depois de tantas vezes já
conhecia os pequenos atletas, e os mais velhos também, melhor talvez. Como dois
irmãos, um par que me chama particularmente a atenção. São deficientes mentais.
Atrasados mentais – como já não se diz. Nadam e quando vêm à tona têm a boca
aberta, sempre, como se estivessem numa eterna contemplação da terra prometida.
Um espanto que não se pode medir. Abrem a boca e olham em volta como se algo
estivesse errado, mas sem saberem o quê. Gostava de poder gritar-lhes que não
há nada de errado ali. Está tudo bem, nadem rapazes, nadem. Mas não me é
permitido. Se eu me sento naquelas cadeiras de plástico é por mim, porque a
piscina é vida e às vezes, à sexta-feira, preciso de sentir que alguma coisa
vale a pena, com as bandeiras a levitarem sobre a água presas por fios que era
escusado. Os mais pequenos chapinham com graça, mas há aqueles que já dão um
jeito de nadador. Chegam aos fim das pistas com alegria e tiram aqueles óculos
que usa, puxam-nos para cima das toucas coloridas e começam a tagarelar uns com
os outros até que o apito do professor os lança em mais uma série de braçadas
desenfreadas como se nada os pudesse parar. A um canto um grupo de idosos como
eu, mas diferentes de mim, fazem exercícios de ginástica ao som ruidoso mas
agradável que pulsa de umas colunas por trás do monitor que faz os mesmos
gestos em posições engraçadas, com o cabelo a dar pequeninos saltos. A piscina
é vida. Já não posso de ir ali nas sexta-feiras em que me sinto mais em baixo. Nem
que fosse para sentir o ar de cadelas com cio com que algumas mães se aproximam dos
monitores a despirem as camisolas antes de entrarem na água. Mas não, já não
pode ser isso.
1 Comentários:
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whеn i read thiѕ аrtіcle і
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to this good рoѕt.
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