quinta-feira, dezembro 22, 2005

A poucos dias do Natal

Aconteceu-me há poucos dias. Tenho a mania de quando estou perdido no trânsito me apegar a estas pequenas coisas. No crivo dos dias, uma ou outra pedra fica à superfície e eu aceito-a como um petiz deslumbrado. Sim, com uma felicidade ingénua.

Noticiário da TSF. "A menina internada em Coimbra está mais desperta... e já pede colinho". Como se tivesse acabado de ganhar tudo no mundo, sorri. Um sorriso rasgado desde as entranhas e que exultou para me repuxar a boca até às orelhas. Egoista, imodesto, pensei, ninguém mais nesta puta de cidade se deu conta do que acaba de acontecer. Não tínhamos ganhado o mundial - eu sentia que tinha ganhado muito mais. Mas que tristemente ninguém se teria apercebido do prodígio.

Toda esta torrente de pensamentos tecidos com nós de garganta teve a duração de um singular segundo. Um tique num Swatch Cronograph. Aconteceu que olhei pelo espelho retrovisor. Nesse mesmo segundo que eu reagia pavloviamente à notícia, a menina do carro de trás fazia comigo um dueto de cordas engasgadas, olhos brilhantes e arcos de orelha a orelha. Nem fiz suposições. O carro tornou-se quente, a cidade ganhou contornos à medida da menina que estava lá longe "mais desperta... a pedir colinho".


Um abraço e até logo

terça-feira, dezembro 20, 2005

Os filhos da mãe

Há agora um anúncio na TSF que diz "Eu é que não sou parvo", "Parvo é quem não aproveita...". Os cabrões doa publicitários, todos muito criativos e inteligentes, coseguiram convencer o tótó do director da não-sei-o-quê-Market de que a agressividade é que era.

Não, meu caríssimo ignorante, isso é falta de formação, falta de educação, falta de boas maneiras. Assim não. Eu - que até posso ser parvo - acabei de me passar uma ordem de restrição, pelo que não posso passar a menos de 300 metros, trezentos, desse tal não-sei-quê-parvos-Market. Tótós.

E ninguém se queixa.


Um abraço e até logo

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Estórias da Venezuela

O advogado de umas senhoras que foram condenadas por tráfico de droga estava hoje indignado e dizia: "há uma justiça para ricos e uma justiça para pobres".

Pois, coitadas das senhoras que alugaram um aviãozito por 50 mil contos para ir a Caracas à farmácia de serviço aviar umas aspirinas e... ficaram-se.


Um abraço e até logo

Poema que fugiu do Moleskyne

Noite fria a esculpir o corpo começo a andar contra o gelo E Movo-me Quero não parar de andar Passo a passo atrás de passo Nesta noite fria Olho para mim para lá de mim e o que quero Continuo a andar Não queria ter de deixar de andar

Mas há aquelas outras coisas que me detêm Pequenas coisas Grandes e desvio-me do fio de prumo Ensaio novo passo de mim No futuro Mas os ossos a zero graus começam a dar de si

Estou a andar E agora já só queria ter a sorte de que na hora quando chegar a hora Que os cães não me ignorem e os seus latidos se ouçam em um só Mas os cães podem estar distraídos ou zangados e negar-me o epitáfio Que digo eu A condição maior que será Se Continuar a Andar a minha e a deles


Um abraço e até logo

terça-feira, dezembro 13, 2005

Debates... huuuuãããããããããh

Mais uma moeda, mais uma voltinha, mais uma viagem, mais um debate.


Um abraço e até logo (apaguem a luz, se faz favor)

terça-feira, dezembro 06, 2005

Cavaco Alegre

Consta que os únicos telespectadores do debate, três senhoras velhotas em Figueiró dos Vinhos - terão aguentado cinco minutos, segundo várias agências com base em fontes oficiosas -, mudaram para a SIC Mulher e, sem levantar suspeitas, viram pela primeira vez "O Sexo e a Cidade" - uma vez sem exemplo, juraram.


Um abraço e até logo

sábado, dezembro 03, 2005

Para que nem tudo sejam penas






Um abraço e até logo

Regras da Moderna Vida em Sociedade Sem Emoção

Estou a ver uma reportagem sobre o Nagorno-Karabakh. As pessoas vivem mal, umas sozinhas, outras com a família - mas a sensação é de isolamento que perpassa por cada situação filmada, como se um bebé ao colo pudesse ser não a melhor coisa do mundo mas apenas mais uma preocupação. A ideia que me fica é "de Fim do Mundo".

Um velhote habita só uma carruagem de comboio que outrora transportou vacas e excrementos de vaca. Diz que perdeu um jovem amigo que se enforcou depois de acabar os estudos. Fala dos irmãos como se entre a infância e o agora não tivesse existido exactamente vida.

Uma família com pais jovens e filhos pequenos de olhar incerto habitam outra carruagem, esta mais arranjada.

E de tudo isto, só uma pergunta me queima na garganta como ferro em brasa: "Que fiz eu para (merecer) ser mais, para ter mais do que estas pessoas?".

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Regras da Moderna Vida em Sociedade


A 1 de Dezembro de 1955, a cidadã negra norte-americana Rosa Parks recusou ceder o seu lugar no autocarro a um passageiro branco. Começava uma luta pelo fim da segregação racial nos EUA. Rosie Parks morreu a 24 Outubro de 2005, aos 92 anos.

Dito assim, em duas ou três palavras, parece uma acção simples. Não deve ter sido. Eu não imagino a presença de espírito que deve ter sido exigida àquela senhora.

"I was determined to achieve the total freedom that our history lessons taught us we were entitled to, no matter what the sacrifice. When I declined to give up my seat, it was not that day, or bus, in particular. I just wanted to be free like everybody else. I did not want to be continually humiliated over something I had no control over: the color of my skin."


Um abraço e até logo