sexta-feira, junho 18, 2004

Descobrir

Não pude deixar de ver o sedentário e o post scriptum. Sempre tive esta ideia inocente: os portugueses não descobriram os indígenas da terra que já era e que mais tarde viria a ser o Brasil. Eles já lá estavam. Ou será que, no momento em que os seus olhos se encontraram apenas aos lusos escolhidos era permitido fazer de matriz? Sei que era assim que a Cristandade pensava. Mas isso foi há quinhentos anos. Se há um item a corrigir nestas histórias de viagens e navegações, este é um deles. Os portugueses, os italianos, espanhóis, holandeses não descobriram - chegaram.

Um abraço e até logo

segunda-feira, junho 14, 2004

Mini-férias

Por uns dias, é provável que isto por aqui vá andar um pouco paradote.

Era para entrar de férias com um post sobre as europeias, mas àparte o síndrome Saramago, a única coisa a registar é que ainda bem que isto de eleger é relativo. Quer dizer, relativo (de percentual) e não absoluto. Assim sendo, apesar da fuga para os areais suados, qual solarium dos pobres, lá ficou assente que a Lusitânia terá uma representação à esquerda. A minha ignorância está de tal maneira bem alimentada que não faço ideia de qual é a família política em maioridade no Parlamento de Estrasburgo.

Continuo a desejar que a coisa se faça à esquerda. Não uma esquerda moderna. Estou-me nas tintas para isso. Uma esquerda pelas pessoas basta-me. E se isso estiver em vias de terceira via ou de extinção, então que se fabrique exija uma direita social.

Um abraço e até já

quarta-feira, junho 09, 2004

"A vida é o mais importante"



Dizem-me agora que era "um senhor". E eu acredito.

segunda-feira, junho 07, 2004

A pedido

Um amigo quis que eu vertesse tinta sobre as quotas das mulheres em medicina.

Caro A..., ainda não é desta que o vou fazer, mas não posso deixar de dizer isto: não têm os homens mulheres por quem se apaixonam, que adoram, a quem se juntam com promessas de amor eterno e de quem colhem frutos que poderão também ser mulheres? E não sucede o mesmo na inversa?

Então, é a essas pessoas que desejamos uma boa quota (que é o mesmo que dizer, aguenta aí os cavalos?). Seria eu capaz de defender isso para a minha filha? Claro que não. E se a minha filha o viesse desejar para mim, que tipo de pai teria eu sido?

Por estas e por muitas outras, o país "em geral" e o mundo "em particular" são uma bela merda.

Em Portugal, raramente se vê uma vontade colectiva em levar por diante o pouco que ainda temos neste rectângulo banhado de sol e mar. Depois, curiosamente, benzidas a água benta e de joelhos esfolados, as pessoas admiram-se. "Solidariedade" é uma palavra comprida. Não é uma palavra cumprida.

A..., um grande abraço, e um dia hei-de dizer qualquer coisa mais pensada sobre isso.

Assim não, vão gozar com o...

Se a alguém cabia o direito de se divorciar era a nós, os eleitores. Mas não, ainda nos estava reservada uma surpresa (que, honestamente, já não surpreende ninguém).

Antes que pudéssemos mostrar qualquer réstea de desagrado por uma ou outra medida governamental, pela ausência de oposição ou pelas desastradas manobras intentadas por quem nos representa no Parlamento, a classe governante e a aspirante a governar saíu à rua já de costas voltadas e olhando-nos sobranceira, de lado. O enfado de quem melhor estaria no green, no court, no lux ou no raiosopartiça é mais do que motivo para dizer: "no domingo vou estar ocupado, tenho uns amigos lá no quintalito para comer umas farinheiras e uns coiratos que a minha sogra me mandou pela carreira".

As magras excepções não me satisfazem. E a cobertura mediática (como muito bem disse Pacheco Pereira) também escapa à minha inocente e pouco afável compreensão.

Um abraço e até logo

terça-feira, junho 01, 2004

Se queres adrenalina, junta-te a nós e vem trabalhar para a tua repartição

Há dias tive - porque de vez em quando tenho - de ir às Finanças. Ir às Finanças é, desde que a ideia assoma ao coração deste homem, fonte de angústia e inquietação. Apenas à força de ameaça e coimas impeditivas poderão alguma vez vergar este cidadão exemplar que eu sou à inevitabilidade de pôr o pé no oitavo bairro fiscal.

Mas fui, contradito, coitadito, fui. Uma vez entrado na quinta dimensão do papel em formulário de triplicada agonia, as filas enfermas de gente deslavada e mal segura contra as paredes, os esgares de expectoração entalada nas goelas sem profilaxia à vista, os mangas de alpaca sem mangas mas de olhar amarelo de tísica profissional, uma vez trinados os arrastares de sola pesada, acordei para o pesadelo adivinhado.

De que vale tentar confundir-me com tudo aquilo? Da nova incursão por territórios hostís, ficou-me apenas a observação que escapa ao olho pela própria qualidade que merece ser observada:

olhando bem para os funcionários, seguindo-os com os olhos encostados às paredes e armários e gavetas e processos, vejo que se confundem com o ambiente em que se movem. Calhando a pilha de dossiers ser parda e eles são pardos. Uma fiscalista sentada ao fundo está de castanho e é desse castanho que estava feito o armário por detrás dela. Um outro de óculos prateados segura um formulário e olha circunspecto - fica sempre bem uma palavra asim em vez de assisado, por ex. - para a folha e todo ele é cinzento como o ar que o rodeia e as gavetas que lhe calharam em sorte. E olho bem e é assim com todos aqueles camaliónicos funcionários do modelo 3 e afins.

Perco a manhã e fico todo aquele tempo a remoer se conseguirei reproduzir o quadro no meu blog. A angústia toma-me em braços de ferro e também eu começo a roçar a borracha das botas contra o pavimento de linóleo.

Um abraço e até logo