quinta-feira, janeiro 27, 2005

A ler

as coisas simples que me dizem: a crónica "Bom Natal, senhor Antunes".

De 6 de Janeiro na "Visão".


Um abraço e até logo

Faz Hoje Sessenta Anos

"As crianças caminhavam logo de manhã para as câmaras de gás. Por vezes levavam um brinquedo na mão".

Hoje, a minha filha ficou doente. Tive de a levar ao médico. Deitada na marquesa, esperneou e berrou e chorou - impotente - enquanto eu e a mãe a agarravamos para que a doutora a pudesse observar convenientemente.

A mãe pegava-lhe a meio do corpo nu, a doutora atentava no peito e na cabeça. Portanto, eu segurava-lhe as pernas. Enquanto durou aquele martírio para a minha bebé, com a "pungência" dos seus gritos, emocionei-me nos olhos que por estar onde estava podia esconder de todos. Não me emocionei pela minha menina - emocionei-me ao imaginar que alguém, em qualquer parte fora da Humanidade, pudesse por motivos completamente opostos, arrancar aquela fúria de seres tão pequenos e indefesos.

Não chorei - mas lembro-me que faz hoje 60 anos sobre a libertação de Auschwitz. E quem o esquecer não merece ter nas mãos uma menina a quem cuidar e receber o riso e sons com sentido apenas para nós.

E não eram apenas crianças - eram todos os que pudessem ser apanhados na voragem demente de quem não chega a ser um animal.

Um abraço e até logo

sexta-feira, janeiro 07, 2005

"Senhor! Abençoai o pai, a mãe, os manos, os avós, os tios, os priminhos e toda a gente"

Ásia - agora parte de nós.
Pequenos anjos caídos.
A dignidade possível na vala comum.

A ignomínia do esquecimento agora lembrado.
Pequenos anjos caídos com os olhos postos em nós.

E nós - nós deixaremos de ser o que somos
enquanto as imagens povoarem o imaginário quotidiano.
Para - de novo - mergulharmos na distância.
Na distância que afasta.
Na distância.
Dos dias - do que não é assim tão importante.


O título deste post é roubado a um outro blog (o Post Scriptum) - mas está impregnado da essência da "anima".


Um abraço e até logo