quarta-feira, janeiro 07, 2004

Impressões...

sobre a Patti Smith



Um mestre do cinquecento - não tenho a certeza qual deles - disse que o objectivo do discípulo é ultrapassar o mestre. Eu acrescentaria que um mestre perfeito é que teria como objectivo ser ultrapassado pelo seu pupilo. Pupilos e mestres aparte, ouvi esta noite em casa de um amigo maior a Patti Smith a cantar o "When doves cry" do Prince. Não me surpreendeu que o cover dela fosse incomensuravelmente mais magnífico do que a versão inicial.

Sobre a Patti Smith nunca se há-de dizer tudo. É sem dúvidas de última hora, pelo menos esta noite, a maior voz feminina da história - Billy Holliday, Ella, Dinah e Nina incluídas, mas a elas peço desde já perdão pelo que digo. A voz da Patti Smith é em si um sentimento. Não inventa, a cada canção sabemos onde ela nos vai surpreender, que tiques e trejeitos vai fazer, mas o coração é sempre apanhado desprevenido onde o ouvido estava já a coca.

Patti Smith canta when doves cry melhor do que Prince porque não poderia ter saído de outra forma. E disso, o Prince não tem culpa alguma.

É que ela guarda em si e apenas para alguns de nós a memória dos sons primordiais, sem tratamento, sem corantes nem conservantes. Os primeiros sons com significado que o Homem há milhões de anos soltou a coberto de uma gruta de granito pitada pelas chamas da fogueira.


sobre mim próprio

Não pertenço à alta sociedade. Não quero. Não sou eu. E quando vier a pertencer (porque é um mal que poderá acontecer a qualquer momento), vou-me repetir todas as noites antes de adormecer - Deixa-te de merdas, não é isso que tu queres. Escrever não se faz em comunhão com a alta sociedade.


sobre a Toys'R Us

Como sou pai e quero o melhor para a minha filha, fui ao TRU comprar uma cama-berço. Depois de três ou quatro voltas às prateleiras optámos (optámos é um bom termo) por uma cama que por acaso tinha por cima uma chapa onde se lia VOX. Achei piada ter escolhido uma cama VOX. E, como o polvo é quem mais ordenha, chamei a empregada a quem expliquei que queria a cama e ela disse-me só um momento - ...da-se, está o Luís Represas ali a cantar na televisão, puta que pariu, nem às três da manhã estamos livres de coisas destas - e foi-se embora para depois voltar e eu ter de explicar tudo outra vez e ela dizer-me que só tinham a que estava exposta e que se eu quisesse podia levá-la logo ou então que entregavam eles mas só à quarta-feira mas que ia confirmar e voltou a desaparecer e eu fiquei ali com a... e a... e o... a olharmos para o resto das coisa até que a menina já crescida voltou com um colega (sim, sei que colegas são as putas, mas é apenas uma força de expressão e claro que sim que força de expressão é de per se uma força de expressão, de todos nós portugas, que não diz nada de especial, quanto mais com força) e o colega disse que infelizmente não podiam vender a cama. O QUÊ?. Está a dizer-me que apesar de a cama estar aqui à minha frente, ter um preço, eu estar num espaço comercial destinado à venda e não à oferta, de eu ter o dinheiro e o direito de escolher coisas, ter escolhido esta cama e querer comprá-la, apesar de tudo isso, diz-me assim: não lha podemos vender?

Isto foi o que aconteceu e há testemunhas para este facto: a TRU não quer a satisfação de um pai que quer o melhor para a filha, a TRU não quer vender o que tem exposto, porque prefere ter as coisas bonitas que tem expostas à vista de todos e não escondidas na casa de um qualquer camafeu (no caso, eu). A TRU é má e tem coisas quiméricas à vista apenas para criar frustração aos portugueses. A TRU quer dizer que não somos dignos de comprar na TRU. A TRU é má e quer desmoralizar-nos. Vamos fazer um raciocínio brilhante: nós estivemos com os EUA na questão do Iraque. O Bin Laden está com o Saddam na questão do Iraque. Os EUA querem-nos bem, digo eu. A TRU quer-nos mal. Terá a TRU alguma coisa a ver com o Bin Laden? Ridículo? Se eu vos disser que a minha filha nasceu a 11 de Setembro - isto é verdade e desconfio que na TRU o sabem -, continuam a achar o meu raciocínio estranho?

Até já

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