25 de Abril, Dia da Democracia ou lá o que é isto que vivemos
Atrasado, como sempre. E depois de roubar a foto num blogue. Espero que não me apanhem. E se me apanharem que me perdoem.
Um abraço e até logo
das pequenas coisas, as mais pequenas mesmo (pauloamaralandre@gmail.com)
1 Comentários:
«Era uma noite como muitas outras noites, húmida e pouco estrelada. Aparentemente sem história. Uma noite incendiada pelas dúvidas de quem não sabia se alguma vez chegaria a ter tempo para ter certezas. E onde estava eu nessa noite para que a noite, para mim, pudesse fazer sentido? Estava no centro geográfico de todas as esperanças e, mesmo sem saber o que me esperava, sabia que estava no sítio certo. Era a madrugada de uma quinta-feira que parecia estar talhada para não ver a história.»
«Estou a responder-te às perguntas que nunca me chegaste a fazer, até porque não as podias ter feito, mas estas são as respostas que me apetece dar para que tudo possa de novo fazer sentido. Onde estava eu nessa noite? Estava em todas as esquinas à espera de uma canção, à espera de uma voz que fosse o rastilho da indignação de outras vozes. E não tinha sede nem fome. Não tinha sono nem pressa. Estava apenas à espera, com a paciência dos gatos seguindo com os olhos a trajectória diurna do voo dos pássaros. Medo? Não, não tinha medo. Não tinha idade para ter medo. Medo tinha de ir ao dentista, de levar uma injecção, mas nunca medo de tombar no asfalto, trespassado pelos dardos que interrompem a última corrida dos insurrectos.»
«Tudo começou, é preciso que o saibas, antes dessa noite. Eu não tinha farda nem patente. Não era militar, embora soubesse que a tropa me esperava, ao virar de um mês, num qualquer edital estampado na vitrine de um átrio de câmara municipal. Eu tinha pressa de que tudo acontecesse, apesar de não saber quando e onde iria acontecer ao certo.»
«Filho, por favor não te metas na política, que estes cavalheiros não brincam e não perdoam a quem se mete com eles. Mil vezes me lembrei e me esqueci dessas palavras tão sábias quanto amedrontadas por medos gravados na pele como tatuagens de sangue. Eu não queria ser prudente, porque ser prudente era ser cobarde, porque ser prudente era aceitar a imobilidade e o cativeiro da voz, o medo do brilho das ideias.»
José Jorge Letria - Uma Noite Fez-se Abril
Um abraço, camarada!
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