O casulo (Parte 3)
O macho fechou a porta atrás de si. Passou pela cria, olhou-a e sorriu. ”As paredes do casulo são verdes. Já não me lembrava disso. Mas também, significará isso alguma coisa?” Em pouco tempo iniciou-se a fase do processo que na maioria dos casos era mal considerada pelos machos mais velhos. Durante muitas semanas se encarregou este de alimentar a cria e de lhe mostrar o funcionamento de todas as estruturas da comunidade. E isto, porque depois da luta, apenas um poderia sobreviver nos casulos durante o Inverno. As condições de ser assim o determinavam. Quer por questões relacionadas com a quantidade de oxigénio e reservas alimentares a que o casulo tinha direito, quantidades muito reduzidas e que portanto apenas suportariam duas unidades por habitação, quer por questões de cooperação. A comunidade assim o exigia. Era então toda a estrutura social que estava posta a jogo. E era necessário portanto que caso fosse a cria o futuro macho dominante estivesse esta preparada.
E a primeira coisa que as crias aprendiam era precisamente a livrarem-se dos corpos das fêmeas, que por vezes ficavam a apodrecer nos casulos durante semanas a fio. Até que as crias estivessem preparadas para iniciar a aprendizagem. Depois era a vez de terem contacto com as estruturas da comunidade. Essencialmente no que dizia respeito às linhas de produção dos bens essenciais. “Por que não os ensinamos antes a defenderem-se e a lutar?”, pensou a certa altura o macho. ”Não serão estes ensinamentos meras formas de os manter iludidos?” E pela primeira vez desde que com os odores do nascimento ainda agarrados a ele conseguiu derrubar o macho que lhe concedeu a vida, começava agora, precisamente agora, a duvidar de todo o processo. ”Por que não os ajudamos a construir novos casulos em vez de os confrontarmos com estes embates?” Não obstante, nunca em qualquer situação o macho mostrava o mínimo sinal de afecto. Talvez pelo mesmo motivo por que no início não havia ajudado a mãe durante o nascimento da cria. Os afectos condicionavam as eficácias exigidas pelo sistema.
Algum tempo depois, a cria estava pronta. As suas feições e estrutura muscular assim o indicavam. E não por coincidência também o processo de aprendizagem chegava ao fim. Tudo começava agora. E apenas agora. Os dois machos estavam prontos. O macho mais velho, por todo o tempo que já lhe vergara ligeiramente a carcaça vertebral, estava, não sem alguma inquietude, amparado de uma serenidade que gravava divisas nas faces dos machos da sua idade. O mais novo, mais enérgico, mais direito, mas mais inseguro. As anteriores vitórias do seu adversário já começavam a marcar pontos. O outro sentiu isso, como já antes o havia pressentido. “A ser um fraco antes morra”, e sabia que se assim fosse a ele competia fazer justiça. “Ainda bem que assim são as lutas, correctas no seu funcionamento”.
Ainda antes do início da luta, procederam à curta cerimónia que iniciava os embates da sucessão. Avançaram um para o outro e lamberam-se mutuamente as mãos antes de as apertarem. Durante esse curto instante, o neófito lembrou-se com horror que no momento em que removiam o corpo da fêmea, o macho a lambia tão sofregamente que ficara confuso por não saber explicar o acto pelo prazer que lhe produzia. E no momento em que aquele lhe tocou a pele não pôde evitar que, entre um arrepio, retirasse a mão coberta por uma espessa saliva. Porque não sabia também neste caso explicar o porquê.
O macho fechou a porta atrás de si. Passou pela cria, olhou-a e sorriu. ”As paredes do casulo são verdes. Já não me lembrava disso. Mas também, significará isso alguma coisa?” Em pouco tempo iniciou-se a fase do processo que na maioria dos casos era mal considerada pelos machos mais velhos. Durante muitas semanas se encarregou este de alimentar a cria e de lhe mostrar o funcionamento de todas as estruturas da comunidade. E isto, porque depois da luta, apenas um poderia sobreviver nos casulos durante o Inverno. As condições de ser assim o determinavam. Quer por questões relacionadas com a quantidade de oxigénio e reservas alimentares a que o casulo tinha direito, quantidades muito reduzidas e que portanto apenas suportariam duas unidades por habitação, quer por questões de cooperação. A comunidade assim o exigia. Era então toda a estrutura social que estava posta a jogo. E era necessário portanto que caso fosse a cria o futuro macho dominante estivesse esta preparada.
E a primeira coisa que as crias aprendiam era precisamente a livrarem-se dos corpos das fêmeas, que por vezes ficavam a apodrecer nos casulos durante semanas a fio. Até que as crias estivessem preparadas para iniciar a aprendizagem. Depois era a vez de terem contacto com as estruturas da comunidade. Essencialmente no que dizia respeito às linhas de produção dos bens essenciais. “Por que não os ensinamos antes a defenderem-se e a lutar?”, pensou a certa altura o macho. ”Não serão estes ensinamentos meras formas de os manter iludidos?” E pela primeira vez desde que com os odores do nascimento ainda agarrados a ele conseguiu derrubar o macho que lhe concedeu a vida, começava agora, precisamente agora, a duvidar de todo o processo. ”Por que não os ajudamos a construir novos casulos em vez de os confrontarmos com estes embates?” Não obstante, nunca em qualquer situação o macho mostrava o mínimo sinal de afecto. Talvez pelo mesmo motivo por que no início não havia ajudado a mãe durante o nascimento da cria. Os afectos condicionavam as eficácias exigidas pelo sistema.
Algum tempo depois, a cria estava pronta. As suas feições e estrutura muscular assim o indicavam. E não por coincidência também o processo de aprendizagem chegava ao fim. Tudo começava agora. E apenas agora. Os dois machos estavam prontos. O macho mais velho, por todo o tempo que já lhe vergara ligeiramente a carcaça vertebral, estava, não sem alguma inquietude, amparado de uma serenidade que gravava divisas nas faces dos machos da sua idade. O mais novo, mais enérgico, mais direito, mas mais inseguro. As anteriores vitórias do seu adversário já começavam a marcar pontos. O outro sentiu isso, como já antes o havia pressentido. “A ser um fraco antes morra”, e sabia que se assim fosse a ele competia fazer justiça. “Ainda bem que assim são as lutas, correctas no seu funcionamento”.
Ainda antes do início da luta, procederam à curta cerimónia que iniciava os embates da sucessão. Avançaram um para o outro e lamberam-se mutuamente as mãos antes de as apertarem. Durante esse curto instante, o neófito lembrou-se com horror que no momento em que removiam o corpo da fêmea, o macho a lambia tão sofregamente que ficara confuso por não saber explicar o acto pelo prazer que lhe produzia. E no momento em que aquele lhe tocou a pele não pôde evitar que, entre um arrepio, retirasse a mão coberta por uma espessa saliva. Porque não sabia também neste caso explicar o porquê.
1 Comentários:
Não li a postagem, mas é só para lhe deixar a minha solidariedade ...
Por que diabo ninguém, que visita um blog deixa um comentário ???
Nem que seja a dizer mal ...
O mundo é só de egoísmos.
Não compreendo a mente humana ... nem sei como vim aqui parar, mas voltarei ...
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