O casulo (Parte 2)
Os movimentos da cria continuavam desajeitados e, quase, limitava-se a rebolar as costas de encontro ao chão do cubículo. Quando, raras vezes, conseguia suportar-se em cima das patas, eram curtas convulsões que a moviam. Estava longe da agilidade dos machos da idade do seu pai. E não obstante a luta já havia começado. Cabia agora ao macho um comportamento correcto. Para com a cria, que honrasse as ancestrais leis da comunidade. A tentação de eliminar um futuro adversário era forte. Era sempre forte essa tentação. Mais ainda considerando que eles viam as crias já como inimigos. Só uma grande dignidade dos machos impedia que procedessem de tal forma. De qualquer modo, nem essa dignidade impedia a obrigatoriedade da presença de um vigilante durante todo o processo. Porque, ainda que e contudo, de quando em quando algum macho descontrolava-se e devorava a cria durante o seu desenvolvimento, assim que nascia. Era portanto com muitos cuidados que a administração da comunidade encarava cada nova sucessão. Alguns dos machos, quer por nojo ou simplesmente por lhes faltar a coragem, recusavam essa antropofagia; vazios de escrúpulo, deitavam-nas porta fora. Ou nas lixeiras. Criavam problemas à comunidade que norma geral não eram muito bem resolvidos. E eram mais do que tudo inconvenientes. De qualquer modo, estes casos revelavam-se muito raros, quase inexistentes para a estatística.
Mas a qualquer momento estava para chegar o oficial da comunidade que ficaria encarregue de supervisionar todo o processo e todas as tentações ficariam com Santo Antão.
“Saudações”, e estendeu-lhe a mão. Espécie de mão. O que para eles era mão. O macho correspondeu ao cumprimento. Como se tivesse mais casos como este para tratar de, o oficial dirigiu-se em passo acelerado até uma mesa encostada a uma das divisórias do casulo. Quando passou pela cria olhou-a de lado. ”Há-de dar urna boa luta”, riu-se. O macho voltou-se para ele. ”Sim, sem dúvida”, e fez uma pausa. “Espero que sim. Teve uma boa mãe. De boa estirpe”, acrescentou o oficial. “Sem dúvida. De boa estirpe’, concluiu o macho enquanto se dirigia à mesa onde o oficial já tinha espalhados os documentos. ”Agora tem de assinar nas linhas em branco”, assinou. Assinou com a habilidade com que as antigas conquistas o brindavam; sempre nestes momentos iniciais. O oficial estava despachado. Quase solenemente, acompanhou-o à porta. Era necessário ganhar a confiança dos oficiais. Não se sabia nunca quando seria necessária. Na ocorrência de qualquer anormalidade. Qualquer coisa que surgisse de imprevisto. Foi cortês e quase fez uma vénia quando se despedia dele. Quase. Porque reparou que este estava cheio de pressa e já não se portava com o protocolo. Muitos casos, elucidou enquanto se afastava. E era crível. No fim de contas era a época da sucessão.
Os movimentos da cria continuavam desajeitados e, quase, limitava-se a rebolar as costas de encontro ao chão do cubículo. Quando, raras vezes, conseguia suportar-se em cima das patas, eram curtas convulsões que a moviam. Estava longe da agilidade dos machos da idade do seu pai. E não obstante a luta já havia começado. Cabia agora ao macho um comportamento correcto. Para com a cria, que honrasse as ancestrais leis da comunidade. A tentação de eliminar um futuro adversário era forte. Era sempre forte essa tentação. Mais ainda considerando que eles viam as crias já como inimigos. Só uma grande dignidade dos machos impedia que procedessem de tal forma. De qualquer modo, nem essa dignidade impedia a obrigatoriedade da presença de um vigilante durante todo o processo. Porque, ainda que e contudo, de quando em quando algum macho descontrolava-se e devorava a cria durante o seu desenvolvimento, assim que nascia. Era portanto com muitos cuidados que a administração da comunidade encarava cada nova sucessão. Alguns dos machos, quer por nojo ou simplesmente por lhes faltar a coragem, recusavam essa antropofagia; vazios de escrúpulo, deitavam-nas porta fora. Ou nas lixeiras. Criavam problemas à comunidade que norma geral não eram muito bem resolvidos. E eram mais do que tudo inconvenientes. De qualquer modo, estes casos revelavam-se muito raros, quase inexistentes para a estatística.
Mas a qualquer momento estava para chegar o oficial da comunidade que ficaria encarregue de supervisionar todo o processo e todas as tentações ficariam com Santo Antão.
“Saudações”, e estendeu-lhe a mão. Espécie de mão. O que para eles era mão. O macho correspondeu ao cumprimento. Como se tivesse mais casos como este para tratar de, o oficial dirigiu-se em passo acelerado até uma mesa encostada a uma das divisórias do casulo. Quando passou pela cria olhou-a de lado. ”Há-de dar urna boa luta”, riu-se. O macho voltou-se para ele. ”Sim, sem dúvida”, e fez uma pausa. “Espero que sim. Teve uma boa mãe. De boa estirpe”, acrescentou o oficial. “Sem dúvida. De boa estirpe’, concluiu o macho enquanto se dirigia à mesa onde o oficial já tinha espalhados os documentos. ”Agora tem de assinar nas linhas em branco”, assinou. Assinou com a habilidade com que as antigas conquistas o brindavam; sempre nestes momentos iniciais. O oficial estava despachado. Quase solenemente, acompanhou-o à porta. Era necessário ganhar a confiança dos oficiais. Não se sabia nunca quando seria necessária. Na ocorrência de qualquer anormalidade. Qualquer coisa que surgisse de imprevisto. Foi cortês e quase fez uma vénia quando se despedia dele. Quase. Porque reparou que este estava cheio de pressa e já não se portava com o protocolo. Muitos casos, elucidou enquanto se afastava. E era crível. No fim de contas era a época da sucessão.
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