quinta-feira, março 29, 2007

Venceu Salazar


Mas - pensemos bem - ganhou o quê? Ganhou espaço no coração dos portugueses? Ganhou a redenção no céu do Senhor? Não. Salazar venceu exactamente aquilo contra o qual sempre lutou. Venceu um escrutínio popular livre.

Agora, só duas notas sobre o concurso e por que razão esteve errado desde o princípio.

1. Os nomes que chegaram a finalistas apenas tiveram direito a um defensor - digamos, um apologista. Como estudei sociologia e aprendi a ser sempre o primeiro e mais feroz escrutinador das hipóteses que apresentava a trabalho, não tenho qualquer dúvida em defender que também aqui, no concurso, se queriam fazer as coisas bem feitas, cada finalista deveria ter, assim como um "apologista", também um (digamos) "acusador". Todos eles. Assim se faria o balanço não só das qualidades mas também das falhas dos grandes homens.

Dessa forma, perceberíamos de Salazar como quis entregar judeus, homens, mulheres e crianças, aos fornos crematórios de Hitler. Como conseguiu entregar 800 espanhóis que queriam escapar à ditadura dos nossos vizinhos ao seu amigo Franco - que, rezam as crónicas, foram logo ali encostados a uma parede e prontamente fuzilados. Mais uma vez homens, mulheres e crianças. Foi como se o próprio Salazar tivesse ele premido os gatilhos.

Sobre a censura e a PIDE pouco há a acrescentar, como acerca da miséria e da ignorância cultivada por todo o país.

2. Ficou também a perceber-se que a história da Justiça depende mais da habilidade dos advogados do que de outros factores de prova e de verdade. Nogueira Pinto terá sido, por infelicidade não vi o programa, um brilhante defensor de Salazar e do Salazarismo.

Uma última nota diz respeito às considerações dos intervenientes no programa. Referiram então que se tratava de um concurso, de entertenimento, de um voto de protesto. Engano puro. Menosprezaram o meio por excelência da democracia - a televisão. O que se passou foi a votação expressa "da atenção" dos apologistas da Velha Senhora. Ao contrário dos outros - os democratas - eles estão vigilantes. Não dormem. E o perigo reside aí. Por isso eles são perigosos. Por isso há que redobrar a atenção para que a História não seja apenas um manual de erros prontos a levar ao micro-ondas.

Um abraço e até logo

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