domingo, março 14, 2004

Senhor Aznar, um dia, era eu pequeno...

Um dia, lembro-me como se tivesse sido há vinte e oito anos, tive um pequeno desentendimento com o meu melhor amigo de infância - coisa que deu para o torto e acabou numa também pequena altercação. Resultado de um murro que ele ofereceu de refeição ao meu parco estômago, puxei o braço atrás e abri-lhe o lábio e esfuranquei-lhe o nariz (sei que aquela palavra não existe, o corrector automático acaba de tardiamente o confirmar - acontece que foi assim que o nariz lhe ficou).

Em consequência da minha inusitada potência - afinal só tinha seis anos - o pai do meu melhor amigo foi com ele a sangrar ter com o meu pai - eu, entretanto, retirara para terrenos estratégicos. Disse o pai do Joãozinho: Viu o que o seu filho fez? O meu pai sempre foi sensato e muito racional. Chamou-me. Perguntou: foste tu quem fez isto? Nessa altura, não tive dúvidas como o presidente do Governo espanhol e eu não era presidente de nada, apenas do meu carácter. "Sim". Não digo que o tenha afirmado com orgulho - apesar de apenas ter reagido, afinal tratava-se do meu melhor amigo, como continuou a ser. Mas disse, a olhar de frente: sim, fui eu. O meu pai deu-me um estalo. Não mugi nem tugi. Fiquei apenas marcado. Depois o meu pai foi tratar das mazelas do Joãozinho com o pai dele. Água quente e paninhos escaldados. Eu fiquei a um canto a olhar.

Eu podia ter dito que não. Não, não fui eu. Mas fui e não poderia ter dito outra coisa na inha ingenuidade de quem ainda só sabe agir de boa fé. A mão do meu pai marcou-me. Mas marcou-me mais quando ele, mais tarde e sem que ainda hoje saiba porquê, veio ter comigo e me pediu desculpa. Disse: "Desculpa, nunca mais te bato por uma coisa destas".

O povo espanhol nunca dirá o mesmo a José Maria Aznar. O presidente do Governo perdeu todas as oportunidades de um dia escrever nas suas memórias: "Com o sangue ainda fresco, o meu povo esteve do meu lado, nas boas e nas más horas".

Um abraço, até logo

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