segunda-feira, janeiro 31, 2011

T-Total Ft. Marc Almond - Baby's on Fire

Assange promete chuva de cables se o chatearem muito

Há quem veja em Assange um criminoso. Compreendo-os. O WikiLeaks já desmascarou quem nunca pensou ser desmascarado. Se eu fosse - por improvável que isso pareça - um homem da política, além de temer Assange também detestaria o homem. Expôs o mau feitio de Cavaco, já semi-entalou os McCann, mas isso não chega sequer a ser amendoins. Olhando hoje para África, percebemos o poder de Assange e do WikiLeaks. Um telegrama, os famosos cables, ajuda a exponenciar ao limite a revolta dos tunisinos simples, a coisa passa para o Egipto, já está no Iémen e sabe-se lá onde mais. O ditador Ben Ali já caiu, Hosni Mubarak está a caminho. Era isto o que temiam, por exemplo, Washington e Londres? Que o povo viesse a confrontar ditadores? Os seus ditadores,os ditadores que eles apoiam, os ditadores amigos? É por isto que Assange é perigoso? Há uns dias o australiano anunciou revelações de contas bancárias duvidosas de políticos de primeiro plano. Será disto também que têm medo?

Curiosamente, não o acusam de espalhar a mentira mas por revelar a verdade. Uma verdade que diz respeito a todos. Ou a verdade sobre assuntos que dizem respeito a todos. Não especula, não aventa, não mente, não deita mão do opróbio, não difama, expõe a verdade. Mais, antes de expôr a verdade comprova-o, ou fá-lo em simultâneo - letal. Assange é uma némesis moderna, uma personalidade tremenda que a Times teve medo de colocar como figura do ano, para eleger um tipo que inventou uma merda para dizer mal de uma gaja qualquer e de repente está em todo o lado com gente à procura do ranhoso com quem se sentava na terceira classe.

E já agora, Visa e MasterCard, fuck you too. Vão-se foder porque sabotaram o WikiLeaks mas recebem apoios para as continhas dos filhos da puta que andam de lençol na cabeça chamados Ku Klux Klan.

Como disse Al Pacino num filme: Let him continue on his journey. It's a valuable future. Believe me. Don't destroy... protect it... embrace it. It's gonna make you proud some day. I promise you. Quanto à Visa e ao MasterCard, nunca é demais: fuck you too.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Five To One (Live Roundhouse London)

Não sei se o Presidente sabia bem o que estava a dizer quando disse que foi uma coisa de cinco contra um. Bem, posso estar enganado, no fim da noite havia um Cavaco Silva com ar muito satisfeito.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

XILOGRAVURAS DE PIRANESI NO DIÁRIO DE CAMPANHA

Uma senhora, camponesa, confidenciava com voz pia à reporter da TSF que a Dona Maria Cavaco tinha as mãos tão fininhas, tão delicadas. E o senhor professor também. Estou nas minhas necessidades. As palavras ecoam uma a uma - uma a uma - com pureza absoluta. Imagino-a camponesa, com mãos rudes musculadas, grossas, de quem amanhou a terra uma vida inteira. Posso enganar-me, mas imagino-a camponesa. Conheço aquelas mãos, não as mãos fininhas de amanuenses, as mãos de quem lutou contra terrões secos com arados, atrás de juntas de bois. Quando era pequeno ficava horas a olhar para as mãos do meu avô, que era pequeno mas rijo, e que tinha mãos de homem. Mãos de homem. O que são as mãos do senhor professor ao lado dessas mãos do meu avô? Da minha avó. Dos meus pais ficaram-me as mãos queimadas por horas nergulhadas em lexívia, a lavar louça no café. Durante anos ignorava que nas palmas daquelas mãos se repetiam os esquiços de Piranesi, a mesma trama e a beleza dos traços, mas ali gravados à força do buril, como xilogravuras. Talvez não, talvez traços de água forte, nada a que se atrevam os senhores delicados. Como eu, também tristemente aquém.