quinta-feira, outubro 21, 2010

Amadeus - Salieri helps Mozart write his Requiem

Goldberg Variations 1-7

domingo, outubro 10, 2010

OBRIGADO MEU DEUS PELOS MAUS OUVIDOS

Um programa de tv numa privada anda à procura de novos talentos musicais. O júri é por vezes severo (imagino que justamente), mas um dos elementos faz gala da dureza, da dureza dele e da dureza de ouvido dos concorrentes, usando expressões que foram populares há décadas, quando eu era miúdo. Hoje, há pouco, foi no entanto isto que lhe saiu da boca: não deiam passos... Coisas destas, mesmo em ouvidos duros, até ao fim do programa, tanto batem até que algumas entram.
GENTE QUE CONTA?

Mas que merda de nome é este para um programa. Sou dependente da TSF há 20 anos, adormeço com a TSF, acordo com a TSF, viajo com a TSF, pelo que não estou preparado para merdas na TSF. GENTE QUE CONTA é um programa que leva figuras da sociedade, predominantemente da área política, à rádio. Para falarem dos assuntos que regem a nação. Suponho que o bem comum. Mas GENTE QUE CONTA? A gente que conta somos todos. São os desgraçados do interior que passam uma vida na aldeia com uma ida única a Lisboa em 70 anos de existência, são as crianças que andam horas para ir e vir da escola em Trás-Os-Montes e depois são mecânicos ou caixas de supermercado, ou professores ou outra coisa qualquer. Gente que conta foram os meus avós maternos, que passaram a vida, à excepção de duas incursões do meu avô a França e Alemanha, numa aldeia de meia centena de habitantes e que sabiam mais da terra e dos sinais dos céus do que muitos académicos. Gente que conta cruzei-me com eles no café dos meus pais durante anos e anos e apesar de não estarem nos livros da História eles existem eu vi-os e posso testemunhar isso, são reais, têm vida e fazem por ela. Gente que conta somos todos. Cuidado com os nomes que dão aos vossos programas. Cuidado com esses juízos de valor. Marcelo Rebelo de Sousa apontava na mesma TSF o quão intolerável era o governo dizer que os portugueses tinham de fazer sacrifícios ao acrescentar que o governo também tinha de fazer sacrifícios. O professor concluiu com: os membros do governo, com mais crise ou menos crise, dormem melhor ou dormem pior, mas dormem, os portugueses, ao contrário, afligem-se para comprar o leite e o pão. É diferente. Esta análise serve para a GENTE QUE CONTA. É só um título, mas o título, estéticamente eficaz, é na essência uma merda. Porque quem conta somos nós. Cuidado com as facilidades ao virar da esquina. Porque nem nós nem aqueles qu aí vão ao programa prestar testemunho merecem novo-riquismos desses.