quinta-feira, março 27, 2008

Conheço artesãos da palavra. Cheguei a lê-los. Invejo-os. Numa frase ou outra, num parágrafo, um capítulo inteiro terminei-os com um "cabrão" ou "filho da puta". Já aconteceu com Borges, Mrozek, já aconteceu com aquele cujo nome me escapa para que não me envergonhe, é Balzac, filho da puta que escreveu como ninguém mais, a Camus invejei tudo e cheguei a desejar as desgraças de Kafka para ser assim hábil com o irreal. Cheguei a pensar que se Bukowski era capaz qualquer coisa com que cobrisse folhas A4 seria também _______. Invejei Dante e anónimos de vários séculos. Até amigos próximos o Quintais o Neves o Faria. Mas há coisas que não enganamos. Há labores que não toleram os impostores. Há listas que nos dispensam como os cactos dispensam a água. Reconheço um artesão em cinco minutos, às vezes cinco segundos. Tristemente - não passo de um operário. Um operário indisponível para trabalhar a massa, quanto mais tratar do reboco. Talvez deva convencer-me de que a arte não é para mim, não me intrometer, não sequer insinuar-me naquele - digamos - convívio. Onde as palavras fazem as apresentações. Dizer que tudo não passou de uma obstinação, uma habilidadezinha sem margem de evolução, um truque de algibeira que não chegará a ilusionar o tempo. Não tenho a senha. A folha branca é um martírio do qual não sou digno. Mais pior - é presunção. Vejam como não domino a ferramenta básica e não digo o que quero. Chega

segunda-feira, março 17, 2008

CHINA CRISIS - wishful thinking

sempre abominei a lei do mais forte

sábado, março 15, 2008


DEMOCRACIA À PARTE


O Governo de José Sócrates prepara-se para proibir os piercings e as tatuagens a menores de 18 anos. Só uma perguntinha: na Assembleia da República estão com falta de trabalho? É que, se não se importam, há um país para gerir - só se não se importarem. Não se vão lembrar um dia destes de normalizar o espaço entre os picotados do papel higiénico - é que isso são merdas que não vão lá sem pelo menos meia dúzia de comissões parlamentares e dois ou três estudos encomendados ao Técnico.


De qualquer forma, a treta dos piercing (mesmo se for nas partes privadas?, quer dizer - clitóris e glandes?) é um favor que o engenheiro me faz. É que estou farto de ouvir a minha filha a dizer que ai e o sorcas gosto do sorcas é o ministro mas papá também gosto de ti gosto dos dois. Ora bem, ela tem quatro anos, daqui a 10 anos tem 14. Um dia entra-me em casa e diz papá quero um piercing no umbigo ou sei lá onde e eu digo-lhe nem pensar e ela amua e diz que vai fazer a mochila e que vai para casa da não sei quem e eu respondo-lhe não tenho nada a ver com isso, vai falar com o teu amigo Sorcas.

UMA QUESTÃO DE JUNTAS


Escrever dá-me cabo das juntas. Hoje vi-me obrigado a escrever três textos de monta. No final da tarefa tinha as juntas todas jodidas, como se diz na terra irmã que devia ser antes terra mãe mas que uma bofetada estragou o destino.


Compreendo agora o que diz Franz Kafka naquela manhã: qualquer coisa como o processo escrevi-o das 10 da noite de... até às seis da manhã... quando ouvi os primeiros barulhos na casa... a minha irmã... não sentia as pernas. Qualquer coisa como isto, que as juntas esboroadas não me deixam levantar para ir procurar apassagem enganadora nos "Diários". Joda-se lá para as juntas.