sábado, setembro 25, 2004

Out of Order - mais uma vez

Foi quando eu ainda não sabia o que é que Ian Curtis queria dizer, durante um concerto, com "You all forgot Rudolph Hess". (Só muito depois percebi o que havia sido a "Joy Division" e o porquê da continuação numa "New Order". Com uma dúzia de anos são poucas as interrogações que nos desadormecem durante a noite, os anos vindouros depressa nos tomariam de assalto.) Mas então era o som doce do "Unknown Pleasures" que me seduzia. O punk transformado em melodia agressiva. Mais do que o consensual "Closer", coisa requintada e elevada pela quintessência da produção em estúdio.

Durante anos alimentei a ideia de estar irmanado com este senhor do lado. Nunca compreendi o que lhe aconteceu. Tudo é história. A minha. Fossilizada nas entranhas mais remotas da máquina que me faz o que sou.


Um abraço e até logo

terça-feira, setembro 21, 2004

Há muitos anos, o top 10 do meu coração

"LC". Durutti Column. Palavras mágicas e melosas. De tardes de Verão deitado num quarto de aldeia recuperado de uma antiga arrecadação de alfaias. Na aldeia dos meus avós, é claro. Com o calor lá fora e Vini Reilly a dedilhar só para mim cá dentro.

Ontem voltei a ver o "24 hours party people". Como não há coincidências nos processos místicos, no fim-de-semana ouvi ao fim de anos de silêncio o segundo, mas para mim número 1, disco dos Durutti Column. Em casa de um amigo maior que comunga destas referências que ao fim de contas são as únicas que contam.

Há quem diga que o "The Guitar And Other Machines" é tecnicamente perfeito, o auge. Verdade, verdade, mas não tem lá plasmada a parte mais feliz dos meus teens. Não tem o sol, os calções e pés descalços pelas pedras das ruas anormalmente largas para uma aldeia. Não tem o sorriso doce da minha avó. Não tem o dolce fare niente e o cheiro a animais e gente simples.


Um abraço e até logo

E já ía nos mil e tal...

Perdi o meu contador que tinha ali ao fundo. Se puderem oferecer-me um, agradecia.


Um abraço e até já

segunda-feira, setembro 20, 2004

Beslam, o ano escolar e o senhor Capitao

Deve ser implicaçao minha, mas nao acredito. Dizem-me que para contrapor as criticas da Oposiçao que atacava o Governo sobre a abertura do ano escolar, um deputado da Maioria disse na Assembleia da Republica que tragedia tinha sido o primeiro dia de aulas na escola de Beslam. Deve ser embirraçao minha, mas recuso-me a acreditar.

Vejam bem, tentar enfiar-me uma destas: que o deputado Gonçalo Capitao tinha dito uma coisa destas. Entao e nao o despediam? Julgo eu: ha coisas com que nao se brinca, que nao se usam em proveito seja do que for.

*

Outra coisa: falei cedo demais. Santana Lopes ainda tinha guardado na manga para este final de semana que altos funcionarios do Ministerio da Educaçao iriam ser dispensados, mas afinal nao, e a culpa que diziam que tinham afinal nao era esse tipo de responsabilidade e agora vamos ver quem e que paga as favas pelo tal atraso nas listas. E ainda que uma refinaria iria fechar, mas que nao e bem assim como nos queremos e logo que haja uma confirmaçao esta prometido fumo branco nas chamines de Sao Bento. Ou holofotes da Capital a apontar para os ceus.

Eu ja me contentava com um primeiro-ministro a fingir que esta a governar.


Um abraço e ate ja

A folha, esse animal irrequieto

Como prometi, la fui ao Zoologico. A pequenota gostou. Em especial de um animal que abundava nos passeios: as folhas acastanhadas que ja vao fazendo rappel desenfreado. A minha filha adorou andar a correr atras delas, trazendo-mas como um trofeu de caçador intrepido. Que ela e, sem duvidas. E eu a pensar que os leoes marinhos, os golfinhos, os macacos e os elefantes a iam por de boca aberta.

Ah!, quando viu as girafas, virou-se para mim e fez "au, au, au". Claro, quatro patas, orelhas, e um cao maior do que os que costumamos ver nas ruas.

Um abraço e ate ja

sexta-feira, setembro 17, 2004

Nao sou digno que entreis na minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo

Ando a fugir ha dias de um assunto que me queima por dentro. Para evitar empregar a expressao "filhos da puta". Com escassa esperança acabei por enviar a seguinte carta:


"Caro Pacheco Pereira,

Escrevo para lhe fazer um pedido: dar luz a esta mensagem, já que o seu blog tem a dimensão humana necessária. A história é simples e trágica, segundo o que vi numa reportagem da RTP. Uma menina da Guiné-Bissau foi diagnosticada com um cancro no olho esquerdo em Agosto de 2003. Na Guiné-Bissau. Com a esperança de vida a esvair-se entre papéis e burocracias, apenas agora consegue uma consulta em Portugal - um ano depois. A médica que atende o seu caso no IPO conclui que nada há a fazer e manda-a para casa com Benuron.

Eu já não imagino o que seria ter de lhe explicar, à menina, o que é morrer e as razões por que ela vai morrer. Mas a dignidade na morte, o alívio do sofrimento, é algo que não me passa pela cabeça que ela não vá ter. Éuma infâmia que cai sobre todos nós, sem excepção. Mandar a menina recambiada para a Guiné-Bissau com Benuron é de uma insensibilidade bestial.

Bem sei que o seu blog trata assuntos de outra dimensão, mas o meu, que é muito pequeno, não chega. Por isso, não teria conseguido evitar enviar-lhe este bocado de coração destroçado e descrente na Humanidade que é o meu. Talvez alguém com o coração ainda inteiro e grande entre os seus leitores possa receitar um outro fim de vida para a menina. Um fim menos brutal.

Com um abraço já antecipadamente agradecido"


Um abraço e ate logo

quinta-feira, setembro 16, 2004

Conselhos

Hoje: ir à Cinemateca ver Buster Keaton, o meu comediante favorito (talvez por nunca rir e parecer encarnar um famoso dito de Samuel Beckett antes mesmo de o irlandês de cabelo espetado o ter pronunciado - "Não há nada mais engraçado do que a desgraça").

Amanhã: ir à Cinemateca ver Raoul Walsh. Há anos que não revejo Raoul Walsh, génio grande atrás da máquina.

No fim-de-semana: ir ao Jardim Zoológico. Eu vou, vou levar a minha filha, enfim, o meu macaquito.


Um abraço e até logo

quarta-feira, setembro 15, 2004

Nunca estive só

"E ele tem razão - porque, apesar de tudo, não desiste. Deixo-vos um conselho: leiam-me à vontade mas ouçam-no a ele."

Para perceberem o que eu disse sobre o meu amigo sedentário, leiam o comentário que ele me enviou.

Quanto a sentir-me ofendido com o epíteto de niilista, nunca isso poderia passar-me pela cabeça e apenas tenho a dizer: ainda não mereço tanto. Sempre tive a ousadia de o relacionar comigo, o termo. Nunca havia sido privilegiado com um eco exterior no mesmo sentido.

Carlos, recebo o teu abraço e envio outro na volta electrónica do correio.


Até logo

O blog usa o direito de resposta

O meu amigo sedentário.blogspot chamou-me niilista, ou quase. Não sei se o tenha como um elogio. Uma coisa sei: tudo o que tenha dito não o mede a ele. Todos fôssemos um pouco como o sedentário e a coisa iria bem. Quero acreditar no que me diz e que afinal nas circunvalações do poder e da decisão rondam íntegros e empenhados vigilantes.

E ele tem razão - porque, apesar de tudo, não desiste. Deixo-vos um conselho: leiam-me à vontade mas ouçam-no a ele.


Um abraço e até logo

Desejo

Desde que me lembro, sempre acalentei o desejo de escrever. Acalentei, palavra que um dicionário traduz como "aconchegar ao peito", diz tudo. Mas a coisa não funciona, custa-me, provoca-me angústia, dói-me. O génio escapa-se-me entre o cérebro e a mão.

E para quê derrubar árvores se não forem depois pasto do génio?


Um abraço e até já

Esquecimento

No "Tempos do Medo" fiz uma pequena adenda no segundo parágrafo porque só depois, ao ler, reparei como deixara uma ideia a meio.


Um abraço e até já

terça-feira, setembro 14, 2004

Tempos do Medo

Portugueses de todos os cantos, uni-vos. Bem sei: os tempos são difíceis.

O Governo não existe, a ver pelos exemplos. De Santana Lopes, sabia que estava a ficar careca; comprovo agoras que a sua alopécia é sobretudo interna (é a descentralização que não é, é deslocalização, mas também não é bem e, depois, finalmente, não é nada; é a diferenciação na Saúde mas que não é bem o que disse nem o que vocês pensam mas é uma coisa que me passou pela cabeça; e outros exemplos e aqueles de que nunca teremos conhecimento mas que acontecerão).

Numa altura em que se discute o segredo de Justiça e a importância da sua "preservação" e a maneira de lixar jornalistas, Fernando Negrão é nomeado para o Governo.

Afinal, António Mexia é de facto um jovem gestor de nomeada e com futuro brilhante. Então Nobre Guedes é um desajeitado político e intelectual. Digo eu, não sei.

Pelo relatório do Governo, o seu ministro das Obras Públicas é incompetente. Na opinião dos ministros da facção PSD, Mexia não tem responsabilidades no acidente de Leixões. Evidentemente que não, isso todos o sabemos. Não tem responsabilidades no acidente como não tem responsabilidade em nada.

No fim de contas, passa-se com ele o que se passa com muita gente. Era gestor da Galp como podia ser gestor de um concessionário automóvel, da CP ou de uma mercearia. Tudo o que deve constar é um cargo para o seu curriculum que apenas a ele e aos circuitos de influência diz respeito. (E isto, digo-o eu, mas lá está, são mariquices minhas, e se tem morrido gente no acidente da doca, e se tem morrido muita gente?)

A cultura da desresponsabilização que tem exemplos no Governo como os não haveria de ter por todo o lado? Já quando Paulo Teixeira apareceu na televisão a chorar quando a ponte de Entre-Os-Rios caiu, não estaria ele a chorar por, no íntimo, se ter encontrado um dos culpados da tragédia? Ele que sabia e que avisou o Governo que a ponte poderia cair mas que, como autarca de Castelo de Paiva, não lhe passou pela cabeça fechar a dita travessia, não pensou depois que aquelas mortes poderiam ter sido evitadas por si? Se calhar pensou. O que aconteceu depois? Foi elevado a herói e é agora brilhante jovem autarca, depois de ter carpido com António Guterres e Jorge Sampaio.

Há muito deixei de acreditar em políticos. Todos, numa volta de 360 graus. Desde os falsos cristãos cuja fé começa quando entram na Igreja e é de novo posta em demolho quando passam a mão pela água benta à saída. À política social que não vai ao Lux para relaxar mas que é antes relaxada. À esquerda que não sabe revoltar-se e aconchega os seus como ovelhas e os transforma em rebanho. Aos sindicatos que já não queimam um pneu há décadas.

Acredito na gente boa. Apenas conto com eles para caminhar neste mundo acerca do qual não alimento qualquer esperança. Dou dinheiro na rua porque não acredito que algumas pessoas o possam receber de outro lado - não é um gesto simpático, é um gesto egocentrista.

Portugueses, não adormeçam. Eu também sei de onde vos vem esse medo, mas não adormeçam.


Um abraço e até logo

domingo, setembro 12, 2004

Regresso

Têm razão. Obrigado. Talvez não valha mesmo a pena ir-me de vez.

Um abraço forte e até já

sábado, setembro 04, 2004

Voltei mas não sei se fico

As férias ficaram-se. O Moleskine quase vazio. Nada reproduzível.

Uma idéia veio de férias comigo: suspender ou fechar definitivamente o tasco.

Há um ano, fez ontem, o quotidien latin abria portas com "Muitas vezes queria a espada na vez da pena. Mas isto não é maneira de estrear o dia.".

Hoje, enquanto não fecha definitivamente, despeço-me com um abraço