quarta-feira, julho 28, 2004

Tude se paga - menos os custos dos fogos

Mais uma vez, mais um ano, novas chamas, o mesmo inferno. Deixem arder que tudo se fará de novo: os lamentos governativos, as medidas mal tomadas, os gestos de governantes fora de tempo. As promessas que ardem de ano para ano. A incompetência. (Zezinho, vê lá se para o ano estudas para passar o ano. Tá bem setora, para o ano vai ser diferente.)

Recusar a ajuda aérea externa porque tinha os seus custos foi apenas uma maneira diferente de o Governo português cuspir na cara do seu povo.

Houve gente que morreu, animais que morreram, casas que arderam, gente que perdeu o que tinha. Tudo isto por estes dias quentes. Pelo contrário, Santana apareceu sorridente na televisão porque ganhou uma moção de confiança. Outros, porque votaram moções de censura. Vi-os, a quase todos, como sorriam e riam na Assembleia da República.

Tenham vergonha. Tenham pudor. Tenham juízo. Os senhores já não têm dez anos. Eu, por mim, não tenho paciência nenhuma para os aturar. Ignorantes.


Um abraço e até logo

O quotidien feito pelos leitores dos outros, neste caso do Abrupto

"(...) estranho o seu silêncio sobre a situação no Sudão e estranho mais ainda porque me recordo das suas palavras críticas sobre a inércia da comunidade internacional, nomeadamente da ONU, aquando do genocídio no Ruanda.

No seguimento do recorrente conflito no Iraque e, utilizando as suas palavras, "numa altura em que nada acontece de relevante", seria bom que "as televisões, o mais poderoso meio de comunicação social" dispensassem alguns segundos para o seguinte:

O Congresso americano aprovou por unanimidade uma resolução considerando a crise do Darfur um genocídio e pediu a intervenção urgente dos Estados Unidos. Foi entregue um projecto americano no Conselho de Segurança da ONU a prever sanções contra Cartum caso o Governo não desarme as milícias árabes.

O Congresso pediu também à Administração do Presidente George W. Bush que assuma a palavra genocídio e que lidere uma acção internacional para lhe pôr cobro, eventualmente uma intervenção unilateral para impedir o genocídio caso as Nações Unidas não intervenham. A juntar a isto o Exército britânico está preparado para enviar 5000 soldados para o Darfur."
(Leitor do Abrupto)

Esta sequência de frases aparece no blog de Pacheco Pereira. Não sei se o leitor está a sério, se está a ironizar, se está a fazer favores, portanto vou dizer o que acho das frases e não do que acho de alguém as escrever.

As coisas, ditas daquela maneira, soam a estranho. Não vou, aliás, alongar-me no que aquilo pouco diz. Mas a imagem que me vinha à cabeça à medida da leitura era a de duas vizinhas a terem uma espécie de diálogo desta natureza:
- Ah, veja lá que o marido da Ermelinda está tão mal.
- Pois é, coitadito.
-É doença ruim, não é?
-Pois é.
-Bem, olhe, deixe-me lá ir que tenho de passar uma roupita que deixei acumular que tenho andado tão mal das costas...
-E eu também tenho de ir fazer o jantar que a minha vida anda num inferno desde que...
-É, olhe, só a nós.

E quanto a "os britânicos estão preparados" e "assumir a palavra genocído e pôr-lhe cobro", que tal um pouco de genica à Março de 2003 e entrar por ali adentro e endireitar as coisas de uma vez por todas? Quer dizer, fazer bem uma vez sem exemplo. Levar ajuda a quem de facto deve estar aterrorizado segundo a segundo. A quem não se pode dar ao luxo do timming ocidental e esperar pelo fim das férias.

Um abraço e até logo

domingo, julho 25, 2004

Ossos e Ofícios

Se eu fosse cronista teria uma coluna não com o título "Nos Corredores do Poder" mas "Nas Catacumbas da Decisão".

Manias de quem já quis ser lavrador; o eterno chamamento da terra e do cheiro dos animais (ou das bestas, como lhes chamam para os meus lados).

Um abraço e até logo

Robin Hood de Lockesley

Estava a ler sobre o Rendimento Social de Inserção e lembrei-me do senhor da floresta de Sherwood. Vá-se lá saber porquê.

Eu penso que nunca disse nestas páginas que tinha alguma crença no mundo. Se o disse, hoje retiro-o.

A propósito de Robin Hood, ajudar os que não precisam, não obrigatoriamente mas, pode ser um erro. Ajudar quem precisa, não é beneficência, filantropismo ou caridade - é uma obrigação. Não o fazer, não o fazer não tem nome, é um gesto canalha.

Quem tem de cuidar dos seus que não têm como se cuidar não olhará certamente a meios para o fazer. Eu não olharia, caso a Autoridade me retirasse dos caminhos do futuro. Apenas precisa de uma mão para se levantar quem está por terra. Se há um canalha a meter essa mão no bolso, então que seja ele a derrubar - por todos os meios.

Como eu espero estar enganado e vir um dia a ser obrigado a engolir este fel mal expurgado.

Um abraço e até logo

sexta-feira, julho 23, 2004

Um génio para o mundo

"Portugal teve no Carlos Paredes a genialidade, sensibilidade, poder de composição, uma belíssima técnica, e interpretação. Ele cumpriu os pontos que tinha a cumprir nesta passagem pela terra." (Luísa Amaro)

Pudessemos todos cumprir com o nosso destino, assim, despegados dos erros do mundo. Apenas - simples e bons, como quem caminha descalço sobre as águas.

Um abraço e até já


quarta-feira, julho 21, 2004

Artes e espectáculos II

Não fui eu que encomendei esta peça tragicómica. Limitei-me a estar quieto e a seguir o levantar do pano, as entradas do elenco com adereços colados a pastilha elástica, ver descer o pano e apagarem-se as luzes para as palmas. Oscar, o Wilde, não teria feito melhor.

Brilhante, bis, bis. Mas agora vamos às coisas sérias. Ou não há nada a fazer do rectângulo luso?

Um abraço e até logo

Artes e espectáculos I

Nem por acaso, um amigo alertou-me para "O Acidental" e o projecto que têm em si.

"Boa sorte também para Teresa Caeiro, que é a primeira mulher portuguesa a desempenhar funções governativas na área da Defesa. O Acidental gosta muito dela e sabe que a Teresa está mais do que habituada a grandes desafios: foi uma brilhante Governadora Civil de Lisboa; depois uma incansável e impecável secretária de Estado da Segurança Social; vai ser certamente uma excepcional secretária de Estado Adjunta da Defesa e dos Antigos Combatentes."

Isto, dizem eles no "Acidental". É chato ser assim traído à última da hora.

 
Um abraço e até já

terça-feira, julho 20, 2004

Prodigiosas coisas

Hoje, no Telejornal da RTP, ouvi José Alberto Carvalho dizer isto:

"Nada salvou a pequena Gilene. A menina são-tomense, de 5 anos, portadora do vírus da Sida, morreu ontem de manhã no Hospital de Santa Maria, em Lisboa."
 
"NADA". É significativo. Como é que nós todos não conseguimos fazer a tempo mais do que "nada".
 
Fôssemos todos competentes em ser humanos e Gilene - e muitos outros - viveriam razoavelmente bem. Mas não, todas as coisinhas da vida nos têm demasiado ocupados.
 
Que Civilização tão atrasada vivemos nestes tempos. Talvez nunca o atraso em Humanidade tenha sido tão grande. Quando se atingem "coisas prodigiosas" (dizia-o o Cândido de Voltaire - que coisas prodigiosas) e essas coisas ficam à guarda dos prodigiosos senhores.
 
Um abraço triste, muito triste, e até logo


segunda-feira, julho 19, 2004

Versos de moleskine

Os dias que correm
oblíquos
e esgotam angústias em horas
povoadas
vêm com essa qualidade
sobranceira
de amansar
quem é feito para desistir
 
E do bolso tiram
o cálice que concede
esta sensação de pertencer ao mundo
Coisa estranha
Coisa tão estranha

sexta-feira, julho 16, 2004

Questões metodológicas

Gostaria que me explicassem como se deve escrever num blog. Se directamente on-line, se através do copy past. Se fôr esta a solução mais indicada, digam-me: como é que se faz copy past de um moleskine?
 
Aceito sugestões, indicações e outras direcções.
 
Um abraço e até logo

Do povo eleito

O "The Daily Show" do genial Jon Stewart é do melhor que se faz em televisão cá em Portugal.
 
Um abraço

quinta-feira, julho 15, 2004

Cinco cinco um

Dou-me agora conta de que ultrapassei a barreira sentimental dos 551 leitores. Isto compõe-se. Imagino como os números vão disparar quando escrever sobre a fuga em frente do antes Doutor Durão Barroso, agora alvo e puro "José Manuel Barroso ao Vosso Dispôr".

Um abraço, até já e não chorem pelo PS

Aceito a aposta

Anderson Polga: "Aposto o meu ordenado como somos campeões".

Se alguém conhecer o central do Sporting digam-lhe que eu aceito a aposta e ponho o meu ordenado em cima da mesa contra o dele em como o Sporting não vai ser campeão. Se ele for homenzinho, deve manter a palavra e aceitar. Vamos ver de que fibra é feito.

Um abraço e até logo

quarta-feira, julho 14, 2004

Há dias assim

Bem sei, ando em banho maria. Assoberbado por um poema que se escreve, autónomo e cínico, dentro da minha cabeça. Um poema que algures há-de ter estes versos

Esta sensação de pertencer ao mundo
Coisa estranha
Coisa tão estranha

Um abraço e até logo

Há dias assim

Bem sei, ando em banho maria. Assoberbado por um poema que se escreve, autónomo e cínico, dentro da minha cabeça. Um poema que algures há-de ter estes versos

Esta sensação de pertencer ao mundo
Coisa estranha
Coisa tão estranha

Um abraço e até logo

sexta-feira, julho 09, 2004

Eles é que se entendem, dizia a minha avó

Acabado o Conselho de Estado, ficámos sem saber o que foi dito e o que Sampaio decidiu (se bem que isto...). Mas ficámos a saber uma coisa: que Alberto João Jardim ficou mais uns minutos à conversa com o Presidente da República para discutir a data das eleições
regionais.

Ora vejamos. Terá aproveitado Jorge Sampaio: "Então, ó doutor Alberto João, agora que estamos a sós, diga-me lá o que é aquele disparate de andar para aí a dizer que o PSD não se deve apresentar a eleições porque eu estou a levar a cabo um golpe de Estado.

Alberto João: Não ligue. As pessoas andam deprimidas e eu tenho que ir dizendo estas coisas, que é para ver se dão ao menos um risinho. Sabe como é. Sou assim, bonacheirão. É da humidade lá no reino.

Nada disto fica em acta nem desata, um abraço e até logo

O perfeito anormal

Ao menos no nome o não-sei-o-quê Markl acertou. É.

O perfeito cromo também não lhe ficaria mal.

Um abraço e até logo

quarta-feira, julho 07, 2004

Já agora...

Os gregos podem ter ganho o campeonato, mas não têm os fantásticos sabonetes Ach Brito. Bem, se tiverem, há que suspender desde já a exportação. É que os gajos não podem ter tudo.

Já agora...

Um abraço e até logo

sábado, julho 03, 2004

Orgulho

Há pouco tempo, tive oportunidade de me confessar a um padre, apesar de não ser católico. Só por acaso não tive essa conversa com ele. Mas sei o que lhe teria dito: padre, perdoe-me por não ser tão bom quanto devia ser.

Em tempos de orgulho nacional futebolístico (que eu o tenho, nos nossos meninos), sinto-me demasiadamente tido em conta por este mail que recebi da "Amnistia Internacional" (e sinto um orgulho encolhido):

Gracias a tu firma, y a la de más de 12 millones de personas, el actual presidente de Nigeria, Olusegun Obasanjo, encargó a una comisión un estudio sobre la pena de muerte en ese país. Las conclusiones sobre dicho estudio se entregarán a finales de este mes de junio. La presión sobre los casos de Amina (en la foto con su hijo) y Safiya, liderada por la Sección Española de Amnistía Internacional, inició este debate.

Perdoem-me a imodéstia, um abraço e até logo

Voltei

Apanhado em flagrante idílio, muitas foram as coisas que perspassaram a alma do povo lusitano.

Resta-me agora, em trabalho de rescaldo, tentar pôr o blog em dia.

Para já, digo isto: apesar de demasiadas vezes ter dúvidas e de me deixar enganar a toda a hora, não tenho dúvidas de que vamos ter eleições antecipadas. Sendo assim, vale mais já do que depois. Não é, senhor Presidente?

Um abraço e até já